Pensemos na seguinte situação:
Estamos no nosso dia de folga, não temos nada marcado nem trabalho agendado. Decidimos tirar o dia para relaxar, passear um pouco e não olhar para o relógio uma única vez. Começamos o dia entusiasmados, sabendo que as horas seguintes serão apenas dedicadas ao nosso bem-estar, lazer e diversão.
Contudo, à medida que o dia se vai desenrolando, vamos notando que algo não está bem connosco. O nosso corpo parece que adotou uma postura naturalmente apressada, andamos num passo rápido apesar de não termos nenhuma hora marcada para estar num determinado sítio. Sentimo-nos insatisfeitos com o dia, apesar do mesmo estar a correr bem. E quando damos por nós, sentimo-nos mais cansados do que talvez nos sentíamos num dia de trabalho.
Esta é a mentalidade dos 99% vs 1%, que Sadia explica num dos seus vídeos em PickUpLimes.
Inevitavelmente, pelo funcionamento do nosso quotidiano e da sociedade em geral, somos levados a focarmo-nos nos resultados de tudo aquilo que fazemos, esquecendo-nos do processo. Como se estivéssemos a subir uma montanha preocupando-nos apenas com a chegada ao cume (1% do tempo) e não com o percurso que nos leva até lá (99% do tempo).
Isto tende a acontecer em todas as áreas da nossa vida. Esta postura, quando repetida, é perpetuada em tudo, seja em horas de trabalho ou horas de lazer.
A nossa mente e o nosso corpo adoram padrões. Repetição leva a hábito, e hábito leva a padrão, seja este bom ou mau.
Por isso, devido a este hábito de encarar as coisas com mais intensidade, passa-se um dia de folga e sentimos que não conseguimos descansar, e recomeçamos a rotina de trabalho com mais fadiga, mais ausência mental, e não sabemos porquê.
Quando nos perguntam a razão para estarmos tão cansados, a nossa resposta geralmente compõe-se pela descrição dos eventos e das circunstâncias à nossa volta. Contudo, ao fazermos isto, estamos a ignorar uma parcela da equação que geralmente compõe o nosso dia a dia.
Acontecimento + Resposta (ao acontecimento) = Resultado
Nem sempre controlamos o acontecimento, mas muitas vezes podemos controlar a resposta a esse acontecimento, através da perceção dos nossos pensamentos e da nossa interpretação desses acontecimentos, mudando assim o resultado.
O exercício ajuda-nos a treinar a “resposta”, pois perante um estímulo desconfortável, a maneira como o executamos, como coexistimos com a fadiga e com os pensamentos que nos levam a querer parar, determinam o resultado que obtemos.
Por isso mesmo é que quando nos sentimos mais cansados, é precisamente quando precisamos de um treino, para moldar a nossa resposta aos estímulos e “agressões” externas.
Durante o processo de treino, quando um determinado músculo é submetido a uma carga mecânica, toda uma adaptação fisiológica irá desencadear-se para que, ao longo do tempo, esse músculo consiga responder cada vez melhor a essa carga mecânica.
O ciclo de estímulo-resposta que está por detrás do processo de treino é também um padrão que o nosso corpo (incluindo o nosso cérebro) começa a adotar para todas as circunstâncias, quase como se fosse uma estratégia evolutiva individual.
Assim sendo, e prometo ser o único palavrão técnico que direi neste artigo, cria-se uma neuroplasticidade que consiste na capacidade do nosso cérebro em criar novos caminhos, novas ligações, que não existiam antes. Uma capacidade de adquirir funções diferentes daquelas que tinha antes de um determinado estímulo.
Voltando ao cansaço. Uma vez mais, destaco o facto de existirem inúmeros fatores que nos levam a sentir mais fadiga, e muitas vezes esta é inevitável. Mas se muitas vezes não controlamos os acontecimentos e as circunstâncias, porque não haveríamos de querer fazer tudo o que está ao nosso alcance para controlarmos aquilo que podemos?
Adquirirmos novas capacidades, explorarmos diferentes potenciais, ajuda-nos a reprogramar o cérebro para que, quando voltamos ao nosso quotidiano, o encaremos de uma forma diferente e interpretemos cada situação com uma leveza maior. Isto ajuda-nos a não ir buscar recursos que não temos, evitando assim vivermos em saldo negativo, drenados… cansados!
Um trabalho interior, que passa pelo treino, descanso, alimentação, mas também pela reflexão, consciência e perceção da maneira como reagimos ao quotidiano, às pessoas, às conversas, aos acontecimentos. E quando nos apercebemos que aquilo que nos drenava mais energia eram precisamente os pensamentos que nasciam das nossas interpretações, tal como no treino o maior fator de fadiga por vezes sejam os nossos pensamentos limitantes, ficamos muito mais no controlo da nossa preservação tanto física como mental.
Nas aulas JRNY, seja em que formato for, ou até mesmo no Mindflow, a máxima é mesmo essa: convidar o corpo e a mente a desfrutar dos 99%, a responder de forma diferente à intensidade, aos desafios e aos momentos de introspeção. Viajar pelos contrastes de música e de treino das aulas cria novas ligações no cérebro para que este também consiga viajar de forma natural pelos contrastes do quotidiano.